quarta-feira, 27 de junho de 2012 18:55
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Desde o último fim de semana, 20 funcionários do Cervantes, um dos mais tradicionais restaurantes do Rio de Janeiro, parecem estar bem mais felizes do que o habitual. O motivo: são alguns dos ganhadores da Quina de São João, que no sábado passado distribuiu quase R$ 90 milhões em prêmios. As identidades dos sortudos - em sua maioria garçons, copeiros, operadores de caixa, que ganham em média R$ 2 mil por mês e acabam de receber R$ 635 mil cada um - estão sendo preservadas.
Juan Carballo Blanco, sócio-gerente da filial da Barra da Tijuca, onde foi organizado o bolão, agora corre contra o tempo para reformular sua equipe de 47 funcionários. "Primeiro fiquei surpreso e contente, porque é a primeira vez na minha vida que eu vejo alguém conhecido ganhar. Mas aí fui ficando preocupado, porque é um desfalque bom". Mesmo com a boa notícia, ninguém deixou de ir trabalhar no dia seguinte. "Todos honraram o compromisso, foram extremamente profissionais".
Embora Blanco vá perder 15 de seus funcionários nos próximos dias, não foi nem preciso publicar anúncio de emprego. As vagas já estão sendo preenchidas por indicação. "Eles mesmos, que são funcionários antigos, estão trazendo amigos, conhecidos, então a partir de domingo eu já tenho a equipe formada. Isso que é importante". Mas Blanco acredita que é só uma questão de tempo até os outros cinco decidirem sair também.
Alguns planos já começam a ser construídos. Os com visão mais empreendedora já querem montar um negócio próprio. Um deles vai abrir um mercadinho, outro decidiu investir no mercado imobiliário: vai comprar algumas quitinetes em Rio das Pedras, região de classe baixa na zona oeste da cidade, e colocar para alugar. Há também os que pretendem ajudar a família. Um deles decidiu levar os parentes de volta para sua terra natal, no Ceará. O outro vai dar uma casa para a irmã, e um dos felizardos resolveu dar R$ 5 mil pra cada um dos irmãos. "Não sei quantos são, mas são muitos", ressalta Blanco.
Mas nem todos entraram no bolão. Um ficou de fora porque foi levar o filho no aeroporto, o outro porque faltou ao trabalho por estar doente, outros por trabalharem em turnos diferentes, ou porque simplesmente não quiseram participar. Mas ninguém deve ter sentido tanto quanto o copeiro Lúcio Osório, funcionário do Cervantes há dois anos. Apostador habitual, ele tinha o dinheiro na mão, mas decidiu não participar. Um dia antes, ele havia ganhado R$ 10 - justamente o valor das cotas do bolão - por ter acertado o resultado do jogo entre Grêmio e Palmeiras. "Não sei o que deu em mim. Não apostei e peguei o dinheiro de volta", disse Osório. Ele costuma apostar em todo tipo de jogo, mas reconhece que mais perde do que ganha. "Eu fiquei muito feliz por eles, mas no domingo bateu um desânimo de trabalhar. Chorei muito".
Por enquanto, os ganhadores decidiram fazer uma vaquinha e dar R$ 1 mil para ele e os outros 26 funcionários que não participaram. Todos ficaram mais motivados, e acreditam que a sorte anda rondando o local. Agora, pretendem continuar a tradição, que já existe há sete anos. Lúcio não desanimou. "Eu vou continuar apostando direto agora. Já deixei dez reais com a minha mãe. Sábado tem jogo, né!".
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